Encontro nacional do agronegócio contou com representantes dos Ministérios da Agricultura, da Infraestrutura, das Comunicações e da embaixada da China no Brasil. No último dia de evento (13/08), destaque para as palestras sobre o mercado na China e a produção sustentável no Brasil, a distribuição de insumos nos Estados Unidos e as perspectivas econômicas para o agronegócio nacional
Encerrando a programação do Congresso Andav 2021, o encontro nacional da distribuição no agronegócio, mais uma rodada de debates sobre o atual cenário e o futuro do setor agropecuário brasileiro ganhou destaque e colocou números finais no 10º ano do evento – que chega ao fim após uma edição histórica, em sua primeira realização 100% digital.
Outro fato marcante deste ano é que, pela primeira vez, o evento – promovido pela Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) e organizado pela Zest Eventos – reuniu autoridades de quatro Ministérios Federais em uma mesma edição. Foram eles: a Ministra de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina; o Ministro da Embaixada da República Popular da China no Brasil, Jin Hongjun; o Secretário Nacional de Transportes Terrestres (representando o Ministério da Infraestrutura), Marcello Costa, e o Diretor de Investimentos e Inovação do Ministério das Comunicações, Pedro Lucas .
A Ministra Tereza Cristina participou da Plenária de abertura do evento, no dia 11/08; Marcello Costa e Pedro Lucas também marcaram presença no primeiro dia, na palestra “Infraestrutura e escoamento da produção agrícola brasileira” e no painel “Inteligência Artificial e Conectividade: Tendências para os próximos anos”, respectivamente; e o ministro Jin Hongjun fechou o seleto hall de autoridades na última sexta-feira (13/08), na palestra “O mercado chinês e a produção sustentável no Brasil” .
Relações comerciais com a China
A apresentação de Jin Hongjun foi um dos destaques do último dia do Congresso Andav 2021 e ressaltou a importância da agropecuária brasileira para o mercado chinês. “Há quase três anos, a China tem sido o maior importador de produtos agropecuários brasileiros. Atualmente, somente o superávit das relações comerciais do setor, envolvendo os dois países, representa cerca de 65% do superávit total do Brasil. Além disso, os investimentos chineses no agronegócio brasileiro mantêm um bom ímpeto e o país é o que mais recebe aportes da China neste sentido em toda a América do Sul”, exaltou.
Entre os produtos mais transportados para o mercado chinês estão os grãos, disse Hongjun, como a soja. “A China é o maior consumidor de soja do mundo e um dos maiores importadores do grão do Brasil. Apenas em 2020, foram exportadas mais de 60 milhões de toneladas do insumo para o solo chinês. E a demanda pelo grão deve aumentar ainda mais, de maneira que este número chegue a 200 milhões de toneladas a longo prazo”, salientou. “Outra tendência atual no país é o café, que vem conquistando o paladar dos chineses, especialmente dos mais jovens. Em breve, o café brasileiro deve conquistar uma fatia admirável do mercado chinês”, acrescentou.
Mas o bom desempenho dos produtos brasileiros não se resume apenas aos grãos, as carnes e proteínas de origem animal também se destacam no mercado chinês. Somente em 2020, segundo Hongjun, o Brasil exportou mais de 900 mil toneladas de carne de frango para a China, mais de 600 mil de carne suína e mais 160 mil de carne bovina. “O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de produtos agropecuários do mundo, além de uma importante fonte de proteínas para a China, com uma gama diversificada de mercadorias de alta qualidade. E estes são produtos em alta nos últimos anos e que podem crescer ainda mais”, pontuou.
Há, ainda, as frutas, que conquistam cada vez mais espaço por lá. “A China, tradicionalmente, produz uma grande quantidade de frutas de alta qualidade, mas este é um segmento no qual o Brasil também vem tendo acesso e oferecendo opções diferentes ao mercado chinês: frutas como uva, abacate e limão podem chegar ao nosso país muito em breve”, destacou. “Essa relação com o agronegócio brasileiro é extremamente benéfica e fundamental para a parceria entre os dois países”, concluiu.
Distribuição de insumos nos Estados Unidos
Das cinco tendências da distribuição de insumos agropecuários nos Estados Unidos – que passam pela consolidação do mercado, eficiência na aplicação dos produtos, relevância dos distribuidores independentes regionais, digitalização das vendas e adoção de práticas sustentáveis – vários exemplos podem ser analisados para os rumos do setor brasileiro. Foi o que comentou o professor afiliado do Centro de Alimentos e Agronegócios da Purdue University, em Indiana (Estados Unidos), e diretor da Marketstrat Agribusiness, Luciano Thome e Castro, que apresentou um paralelo da atividade entre os dois países.
Entre os destaques de sua abordagem, Castro mostrou que o processo de consolidação de empresas no Brasil deve continuar. “O Brasil é um lugar especial para falar sobre agronegócio e conta com excelentes empresas em rota de crescimento e profissionalização”, afirmou. Ambos os motivos são de grande atratividade para as companhias estrangeiras, disse. “No entanto, a agricultura brasileira é heterogênea, demandando conhecimento e estruturas regionais, e o crédito agrícola ainda é limitado, o que acaba dificultando sinergias no setor”, alertou.
Já nos Estados Unidos, segundo Castro, mesmo em um mercado consolidado e concorrido, existe espaço para empresas regionais que têm foco no negócio e realizam um trabalho sério. “Ser regional e forte significa trabalhar um processo de grande proximidade, foco e agregação de valor aos clientes locais”.
O palestrante também ressaltou que a digitalização não deve ser vista apenas como e-commerce. “A ideia que prepondera é de uma combinação digital com o físico, realizando a compra online junto com o produtor”. O docente assinalou também que uma pesquisa realizada no mercado norte-americano mostrou que a venda online “pura” por lá, atualmente, responde por 7% a 10% deste mercado, mas quando operacionalizada com contato humano passa a representar algo em torno de 20% a 25%. “Na digitalização, não devemos usar o ‘OU’ quando falamos da convergência entre os mundos físico e digital, no sentido de escolher um ou outro, e sim o ‘E’, com o intuito de uni-los e integrá-los visando alcançar resultados ainda melhores”, completou.
Perspectivas econômicas para o agronegócio
Outra palestra de destaque do terceiro e último dia de Congresso Andav 2021 foi a do jornalista econômico e especialista em agronegócio Silmar Müller, que avaliou a atual safra do país e adiantou as perspectivas econômicas para a safra 2021/2022. Começando pelo café. “Já era esperado que este ano fosse de baixa produção para o café, mas a falta de chuvas acabou afetando ainda mais o setor. Embora os preços mais altos tenham compensado. No entanto, logo após, veio um susto com a safra do próximo ano, que sofreu com o frio e as geadas de julho, ocasionando uma nova projeção de queda para 2022. Acredito que, novamente, os preços devam equilibrar a balança mais uma vez”, ponderou.
Segundo ele, as baixas temperaturas e a escassez de chuvas afetaram também as plantações de cana de açúcar pelo país, causando impactos significativos na produção, em especial, do açúcar e do etanol. “Fala-se no mercado em uma perda de 100 milhões de toneladas, em média, para este segmento. Então, neste ano, não iremos muito além de 500 milhões de toneladas no total da safra, o que é considerado um número baixo”, alertou.
Cenário de queda também teve o algodão, que enfrentou uma grande queda na área de plantio, de 18%. “Isso, lamentavelmente, fez com que os preços voltassem a subir, com níveis próximos a 20 centavos de dólar, o que acabou compensando a queda”, ressaltou.
Já o arroz, a soja e o trigo tiveram bons resultados, segundo Müller. “O arroz está com uma safra muito boa esse ano, superando as safras que não foram tão bem em anos anteriores, com retornos bastante significativos. A soja, apesar do atraso no plantio, ainda conseguiu ter uma produção recorde, com bons preços. Já o trigo é uma safra ainda em andamento, com grande potencial e expectativa de atingir um número recorde, de 8 milhões de toneladas. Vamos esperar que o clima contribua até o final da colheita, do fim de setembro até dezembro. Mas a safra é boa e com bons preços, coisa rara no cenário nacional”, comentou.
Por outro lado, quando o assunto são as perspectivas para a safra 2021/2022, os números variam. De acordo com o especialista, as expectativas são: “Arroz (redução de área plantada entre 1% a 1,5%, em especial no RS, pois o produtor de arroz local está cedendo espaço para a soja); feijão (a primeira safra do ano não deve ter aumento de área, pelo contrário, a tendência é de uma queda de 0,5%); algodão (a tendência é um aumento de até 5%, após queda de 18% em 20/21); milho (a primeira safra deve ter um pequeno aumento de área, de 1% a 1,5%; já na segunda, a tendência é de manutenção e de um novo aumento de pelo menos 1%, a depender das condições de mercado); e soja (com um forte aumento esperado na área de plantio, entre 4 e 5% – os maiores aumentos são esperados na região norte do país, no norte e leste do MT, e na metade sul do RS)”, concluiu.
Homenagem
Considerado o “pai da agricultura moderna no Brasil”, o ex-ministro da Agricultura (1974-1979) e atual diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, tem sua história profissional dedicada à evolução do agronegócio brasileiro. Reconhecido por modernizar a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e por ser o responsável pela reestruturação do crédito agrícola no país, entre muitas outras iniciativas, Paolinelli contribuiu para o salto científico e tecnológico da agricultura e da pecuária nacional nas últimas décadas. Indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2021, pela contribuição e dedicação à agricultura tropical, segurança alimentar e sustentabilidade, Paolinelli abrilhantou o Congresso Andav 2021 com uma mensagem para a associação. “A Andav foi uma grande companheira desta longa jornada, sempre transparente com o mercado. Teve importante participação no crescimento do setor, sempre com esforço e competência para ajudar o produtor brasileiro. Agradeço a realização do Congresso em um momento tão oportuno, que depende dos esforços de cada empresa do ramo”, disse. “O Brasil não só alimenta a nossa população, como mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. Tenho certeza que a Andav vai ajudar o Brasil na liderança para abastecer o mundo, que tem previsão de chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050”, complementou.
Acredite em você
Da aventura de escalar os mais de 8 mil metros de altura do monte Everest, o proprietário da Café Brasil Editorial, Luciano Pires, teve muitas vivências positivas que foram compartilhadas com os participantes da palestra de encerramento do Congresso Andav 2021. Então executivo de uma multinacional de autopeças no início dos anos 2000, Pires aos 42 anos, resolveu quebrar a rotina e se lançar em um desafio que resultou em uma virada na sua vida pessoal e profissional.
Para realizar a transição do sonho para uma experiência real, o palestrante e autor de livros revelou que teve três grandes aprendizados, que servem para se atingir qualquer meta na vida: conhecimento, para se preparar para o desafio; criatividade, para superar barreiras; e coragem, para fazer acontecer, apesar do medo. “O importante é mudar o olhar crítico para o criativo, aquele que te empurra para a conquista. Quem acredita, alcança”, finalizou.
SOBRE OS ORGANIZADORES
Andav: A Andav – Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários – representa o Distribuidor de Insumos Agropecuários há mais de 30 anos e atualmente reúne mais de 2.000 empresas de todas as regiões do Brasil, responsáveis por levar as boas práticas ao campo e, acima de tudo, zelar pelo bom funcionamento da cadeia produtiva ao estender conhecimento, produtos, serviços e tecnologia.
Zest Eventos: A Zest Eventos nasce da união de mais de 10 anos de excelência e sucesso em construir eventos e trabalhar em equipe. Uma empresa dedicada a entregar experiências: além de criar e promover eventos físicos, digitais e híbridos, é especialista em desenvolver consultorias especializadas em marketing, vendas e projetos especiais para o setor B2B.
Fonte: AGROREVENDA
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