Fungos e bactérias são exemplos de biológicos que fazem a diferença no solo
As soluções biológicas ganham cada vez mais destaque na agricultura brasileira e devem ganhar ainda mais espaço com o Programa Nacional de Bioinsumos. A iniciativa do governo federal busca incentivar a pesquisa e desenvolvimento de novas soluções para a agricultura, pecuária e até aquicultura, de elementos existentes na biodiversidade brasileira.
Para o CEO da Biotrop, Antonio Carlos Zem, empresa voltada para o segmento, os resultados com uso de biológicos são muito expressivos quando o produtor opta por soluções de elevada qualidade e que são o resultado de um extensivo trabalho de pesquisa e desenvolvimento. O executivo ressalta que os produtos biológicos podem ser usados sozinhos ou concomitante com químicos e como linhas gerais o que mais chama a atenção são os retornos sobre investimento que costumam ser superiores a 1 para 3, ou seja, para cada R$ 1,00 investido em biológicos há um retorno médio da ordem de R$ 3,00.
Sobre o plano de incentivo aos bioinsumos, Zem aponta que há um grande benefício de contribuir para aumentar o interesse do público sobre os biológicos. “A adoção de biológicos ainda é baixa, temos um papel fundamental de trazer mais produtores para essa nova onda tecnológica. É seguramente um salto necessário para o presente e o futuro da nossa agricultura tropical”, destaca.
Um último ponto do Plano é trazer para o centro da discussão uma série de temas fundamentais para o produtor e para a indústria de biológicos. “ Há uma pressão por custos, há um trabalho muito grande para gerar inovação e demonstrar eficiência. A construção do futuro é um trabalho a muitas mãos”, diz.
O Portal Agrolink conversou com o executivo sobre as aplicações de biológicos no solo e seus resultados e como está o mercado no Brasil. Confira a entrevista:
Portal Agrolink: como atuam os fungos e bactérias nas plantas e no solo?
Antonio Zem: o solo é o maior patrimônio de um produtor e o aspecto biológico do solo, apesar de fundamental, foi por muitos anos deixado de lado. Os microrganismos benéficos, sejam eles fungos, bactérias ou leveduras, atuam de diferentes formas no sistema solo-planta. Há a promoção de crescimento, a competição por espaço e nutrientes, a antibiose, a predação, a indução de resistência e novos mecanismos são descobertos todos os anos. Existem organismos como o Trichoderma, um fungo capaz de colonizar grandes superfícies e se alimentar de outros fungos, alguns deles causadores de doenças importantes como o mofo branco por exemplo. Outros microrganismos como oBacillus subtilis tem uma ação muito forte de proteção do sistema radicular, alterando os exsudados e a capacidade de orientação de fitopatógenos como alguns nematoides.
Há alguns pontos sérios para destacarmos quando tratamos dessa interação fundamental no microbioma das plantas: (1) as espécies de microrganismos podem ser até as mesmas, mas as funções são diferentes e únicas conforme cada cepa (subgrupo dentro de cada espécie), isso quer dizer que um dado B. subtilis pode ser muito bom no manejo de doenças e outro B. subtilis pode não ter efeito. Essa seleção leva anos e envolve muita pesquisa. (2) a qualidade é fundamental. Não há como comparar a tecnologia que dispomos hoje e o que existia no mercado há 5 anos atrás. (3) os microrganismos não têm uma única ação, em geral combinam de 2 a 5 modos de ação, por exemplo controlando uma doença, promovendo crescimento das raízes e ainda estimulando a defesa da própria planta. Por isso tudo o mercado de biológicos demanda muito mais o apoio técnico e suporte a nível de campo.
Portal Agrolink: que resultados o produtor pode alcançar?
Antonio Zem: não são raras as áreas nas quais novos patamares produtivos são atingidos com a introdução dos biológicos. O potencial produtivo é estabelecido pela genética, os biológicos atuam permitindo uma maior expressão desse potencial. Ou seja, diminuem as perdas causadas por pragas, doenças e por ineficiências no aporte nutricional.
Portal Agrolink: uso deve ser combinado com químicos?
Antonio Zem: não há receita de bolo. Há casos nos quais o biológico efetivamente substitui o químico e dois grandes exemplos são os bionematicidas - hoje a maior parte do mercado de controle de nematoides no Brasil é biológico - e a fixação biológica de nitrogênio - hoje a quase totalidade da soja brasileira é produzida com zero quase zero adição de nitrogênio. O que nós (Biotrop) acreditamos é que no futuro na maior parte das aplicações o químico e o biológico serão aplicados em conjunto, um potencializando o outro. Uma relação sinérgica na qual o químico desempenha um papel fundamental e tem o biológico aumentado sua eficiência, reduzindo a seleção de populações de pragas resistentes e trazendo mais segurança e rentabilidade para o produtor.
Portal Agrolink: os biológicos estão em alta, com incentivo para novas soluções e formulações. Como o produtor vem observando e demandando isso? É um processo de transição como foi quando surgiu o plantio direto, as máquinas, tecnologias?
Antonio Zem: o produtor brasileiro é inovador, é empreendedor e isso faz com que as soluções aqui no Brasil evoluam muito mais rápido que em outros países. Além disso o produtor brasileiro tem a sustentabilidade como fundamento. Quando falamos de biológicos não é diferente e o Brasil lidera o mundo nesse segmento também. Prova disso é que mais de 90% de toda área plantada de soja do Brasil já utiliza biológicos há muitos anos. O inoculante (Bradyrhizobium spp) é amplamente utilizado e garante uma economia de bilhões de dólares por ano ao nosso agronegócio. Uma pena ter se tornado um produto pouco valorizado pelo produtor. O produtor vem buscando e testando essas novas tecnologias biológicas (solubilizadores de nutrientes, biodefensivos, bioestimulantes etc.). Seguramente há uma curva de adoção, mas ela está bastante acelerada e nesse ritmo, em menos de 10 anos teremos uma agricultura de base amplamente biológica.
Fonte: Por: AGROLINK -Eliza Maliszewski
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